Blog do Grupo de Estudos sobre Comunicação, Cultura e Sociedade (GRECOS), coordenado pela professora Ana Lucia Enne (UFF), relacionado às disciplinas lecionadas por ela no curso de Estudos de Mídia e na Pós-graduação em Cultura e Territorialidades (PPCULT) da UFF, conjugando reflexões sobre sociologia, estudos culturais, história, antropologia, cultura, mídia, consumo, memória, juventude, movimentos sociais e identidade, dentre outros temas, e ao Laboratório de Mídia e Identidade (LAMI).
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação a aluna Natalia Lourenço desenvolveu uma análise da série da Netflix, Expresso do Amanhã (em inglês: Snowpiercer), que foi idealizada a partir do filme de título homônimo, dirigido pelo produtor, roteirista e cineasta Bong Joon-ho.
"A trama narra a estória de um grupo de sobreviventes que vivem em um trem autossustentável, após a temperatura da Terra cair a ponto de dizimar a humanidade. Na locomotiva, que se desloca em trilhos dispostos ao redor de todo o planeta, cada vagão apresenta determinado papel para a sociedade que ele abriga. Existem vagões para agropecuária, para diversão, para o comércio, para a habitação, para a saúde, para prisão de infratores e para todas as demais atividades necessárias para a manutenção daquela sociedade. Os segmentos do trem são divididos de acordo com as classes sociais. Os passageiros do Snowpiercer compõem a primeira classe, a classe trabalhadora/operária e o fundo, de acordo com a passagem que adquiriram e quanto pagaram por ela. Os passageiros que vivem no “fundo”, no último vagão do trem, não compraram passagem e entraram no veículo clandestinamente e, por isso, vivem de forma miserável, sem direitos ou condições mínimas para viver dignamente. Os passageiros da classe trabalhadora/operária desempenham todas as atividades laborais do trem, desde as “braçais” até à administrativa. Enquanto isso, os passageiros da primeira classe, aqueles que pagaram o valor mais alto por suas passagens, não trabalham e apenas desfrutam das comodidades, produtos e serviços oferecidos no trem, fruto do trabalho alheio."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, a aluna Luize Moraes desenvolveu uma análise da série espanhola da Netflix: Las Chicas del Cable (no Brasil, As Telefonistas), a partir de conceitos do teórico crítico Douglas Kellner, trabalhado na disciplina.
"A série espanhola As Telefonistas - disponível da plataforma de streaming Netflix - aborda questões sociais relevantes no campo dos estudos das narrativas culturais. A ficção é ambientalizada em 1920, momento no qual as mulheres enfrentavam um processo ainda mais difícil, comparado ao atual, na busca por liberdade e direitos sociais. Atualmente, as mulheres e o feminismo - através de luta constante - conquistaram avanços no cenário desigual da sociedade, como por exemplo o direito ao voto, entretanto, as marcas patriarcais ainda são evidentes na contemporaneidade. Nesse sentido, a série em questão aborda a representação feminina em 1920 ao mesmo tempo que contribui para a simbolização e a manutenção da memória histórica na luta das mulheres, que se mostra presente no Brasil desde o período colonial, através do patriarcado, até os dias atuais."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, a aluna Livia Maria Hora fez uma análise sobre o álbum “Goela Abaixo” de Liniker e os Caramelows através de de conceitos trabalhados na disciplina e de sua própria experiência com o álbum.
"Somos tão subjugados o tempo inteiro, estamos sempre ansiosos, sempre com a sensação de que
podemos ser trocados, sabemos que a força do Estado pode operar sobre nós a qualquer instante, temos que nos esgoelar para receber o mínimo de respeito e o mínimo de humanidade, que às vezes tudo o que queremos é um descanso. Uma pausa para sentirmos que somos seres humanos. Um momento de paz e troca para não nos perder completamente. O carinho na goela é uma demonstração de que não precisamos mais gritar."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, a aluna Lia Castanho a partir da perspectiva de Douglas Kellner optou por fazer uma análise crítica da série Sex and The City, enxergando-a como integrante da cultura de mídias, através de uma pedagogia que foge do binarismo.
"Considerada um grande marco pela indústria produtora de sitcoms no final dos anos de 90, presente em debates feministas e acusada atualmente de envelhecer mal (um episódio contém o ex- presidente Trump como materialização do homem perfeito), Sex and The City ainda gera discussões no meio acadêmico e nos demais setores da sociedade. Após 17 anos da exibição de seu último capítulo (2004), a sitcom ainda conquista público, atinge diversas faixas etárias e se encontra presente nas redes sociais não só através dos debates impulsionados pelas questões e dramas vivenciados pelas personagens, mas também pelo vestuário, a moda é também central no enredo. A identificação com as personagens, mulheres brancas de classe média na faixa dos 30 anos lidando com dilemas dos seus múltiplos papéis na sociedade no tempo atual, engendra este trabalho. Além deste aspecto, a escolha desse produto midiático para análise sociológica recebe influência direta da perspectiva do pesquisador Douglas Kellner (2002). Deste modo, possui como principal proposta a não demonização da sitcom, mas sim uma análise crítica do fenômeno, enxergando-o como integrante da cultura de mídias e praticando uma nova pedagogia que foge do binarismo proposto pelos apocalípticos e integrados."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, a aluna Larissa Da S. Fonseca desenvolveu uma análise acerca do fenômeno do aumento de criadores de conteúdo no Instagram durante a pandemia, se baseando em autores e conceitos trabalhados ao longo do semestre.
"No ano passado, a pandemia do novo coronavírus parou a vida de toda população, e durante essa fase de isolamento, as pessoas redescobriram formas de se comunicar, e de se expressar. De acordo com uma pesquisa, quase 90% das pessoas aumentaram o tempo de uso no celular, e no pico da crise mundial, o público do Instagram cresceu 40%. Dessa forma, alguns sujeitos viram a oportunidade de compartilhar as suas histórias e os seus conhecimentos em formato de post.
Como bem disse Enne em seu papinho podemos ver que o “show da performance" ganhou bastante força nas redes sociais no período da pandemia do COVID -19. Provavelmente você já escutou alguém comentando “fulana virou blogueira" ou “virou blogueira né?” Essas falas são bastante comuns, no universo de pessoas que estão compartilhando no mundo online seus ideais, looks do dia, dicas, tutoriais, textos, vídeos, receitas, enfim, algo que a pessoa gosta de fazer e acredita ser bom ou boa naquilo."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, o aluno Julieverson Figueiredo desenvolveu uma análise do reality show Big Brother Brasil a partir de conceitos de Max Weber, Guy Debord, e Erving Goffman, trabalhados na disciplina.
"A garantia à privacidade é um direito humano desenvolvido a partir do pensamento liberal, levada a sério pela sociedade e assegurada pela Constituição Federal, em seu artigo 5.o, inciso X. Contudo, existem pessoas que gostam de estar em evidência, e podem abrir mão de tal direito a fim de adquirir fama e espaço nos meios midiáticos. E se essas pessoas que gostam de se destacar tivessem a oportunidade de estarem sendo vistas 24 horas por dia, dentro de uma casa, tendo sua imagem veiculada todos dias, por em média três meses, no maior conglomerado de mídia de seu país, na intenção de serem julgados pela audiência e quem sabe se tornarem milionárias? Essa é a premissa do Big Brother Brasil, versão brasileira do reality show Big Brother."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, a partir de pensamentos do sociólogo Edgar Morin em seu livro Culturas de Massa, a aluna Mariana Goulart desenvolveu uma análise acerca das narrativa relacionadas a campeã da 22ª edição do Big Brother Brasil, Juliette Freire, e seu potencial de identificação.
"A narrativa criada pela jogadora e principalmente montada para a edição que ia ao ar diariamente do Big Brother Brasil, conseguiu fazer com que muitas pessoas se identificassem com a história que a participante vivia lá dentro da casa, essa identificação tem muito a ver com o que Edgar Morin comenta em seu livro Culturas de Massa no Século XX: o espírito do tempo, ao trazer uma reflexão que coloca esses novos influenciadores no lugar de deuses, se tornando modelos de vida para quem os acompanha."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, o aluno Caio Santos Aguiar desenvolveu uma análise acerca do uso da rede social Instagram se baseando em autores e conceitos trabalhados ao longo do semestre.
"Com o objetivo principal de ser uma plataforma de compartilhamento de fotos e vídeos, o Instagram ao decorrer de 11 anos se tornou não só uma das maiores redes sociais, como também um dos maiores veículos de publicidade e comunicação do mundo. Dados divulgados pela Revista Forúm mostram que no ano de 2018 a plataforma atingiu o número de 1 bilhão de usuários ativos e que pelo menos 71% dos usuários têm entre 18 e 35 anos. No mesmo ano, de acordo com um estudo realizado pela Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais do Ensino Superior (Andifes), 8 em cada 10 alunos, de 18 a 29 anos relataram sentir ansiedade, medo e desesperança, poderia o Instagram estar sendo um dos gatilhos para os jovens adultos nestes tempos de modernidade líquida?."
Para finalizar a disciplina Sociologia e Comunicação, o aluno Expedito Veríssimo optou por trabalhar conceitos do sociólogo Karl Marx, relacionando-os com a indústria do Agronegócio, expondo suas problemáticas e efeitos na sociedade.
"Ao consumir os alimentos no mercado a pessoa não tem noção de como é feito o processo de produção do agronegócio, as condições de trabalho arriscadas pelo uso de substâncias altamente
tóxicas e/ou cancerígenas, a lógica exploradora da terra, invasões, o impacto ambiental exacerbado e insustentável entre outros. Tudo isso fica oculto e cria-se uma falsa idealização de que o Agronegócio é algo que produtivo, moderno e traz retorno benéfico. Uma vez que o agronegócio detém grande parte dos meios de produção conseguimos criar uma relação entre a mídia e a propaganda que fortalece um discurso do agronegócio. A propaganda: “Agro é tec, agro é pop, agro é tudo”, esclarece isso muito bem. Ela nos apresenta por via dos meios de comunicação um discurso que procura a manutenção e afirmação de poder por meio de imagens idealizadas e utópicas da realidade o que pode ser considerado uma alienação. As pessoas que
internalizam essas afirmações terão mais dificuldade ainda de conseguir enxergar todas as questões que não são trazidas com frequência. Então, ao consumir um produto ela sente segurança por ter uma visão distorcida da realidade, o que nos lembra aquele pensamento hegemônico imposto pela ideologia."
No Papinho ep.18, seguimos apoiando as disciplinas de Estudos Culturais, com Ana Enne e Luna Costa na graduação de Estudos de Mídia/UFF, e de Teoria das Territorialidades, do PPCULT/UFF, ambas no semestre 2021/1. Neste segundo Papinho desta terceira temporada, conversamos sobre as cosmovisões e epistemes ameríndias, especialmente a partir do Bem Viver, da Utopia Ch'ixi, proposta por Silvia Cusicanqui, e das reflexões de Ailton Krenak sobre como podemos adiar o fim do mundo.
Vamos disponibilizar aqui uma relação das referências que embasaram o episódio, citadas ou não no decorrer do mesmo, em ordem de aparecimento no decorrer do Papinho 18:
8) PAZZARELLI, Francisco. "Entrevista. Esas papitas me están mirando! Silvia Rivera Cusicanqui y la textura ch’ixi de los mundos". Revista de Antropologia da UFSCAR. R@U, 9 (2), jul./dez. 2017: 219-230.
9) POTIGUARA, Eliane. “Exaltação à terra, à cultura e à espiritualidade indígenas”. IN: Metade cara, metade máscara. Rio de Janeiro: Grumin, 2018.
11) CASTRO, Eduardo Viveiros de. “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. MANA 2(2):115-144, 1996.
12) ANJOS, José Carlos dos e FEHLAUER, Tércio Jacques. “Para além do “pachamamismo”: Pachamama e Sumak Kawsay como potência cosmopolítica andina”. IN: Tellus, Campo Grande, MS, ano 17, n. 32, p. 103-118, jan./abr. 2017.
13) FIGUEIREDO, Eurídice. “Eliane Potiguara e Daniel Munduruku: por uma cosmovisão ameríndia”. IN: Estudos de literatura brasileira contemporânea, n. 53, p. 291-304, jan./abr. 2018.
14) LIMA, Tãnia Stolze. “O Dois e seu múltiplo: reflexões sobre o Perspectivismo em uma Cosmologia Tupi” MANA 2(2):21-47, 1996
46) Sobre as concepções de akha pacha e khä pacha, ver CUSICANQUI, Silvia Rivera."Entre el Buen Vivir y el Desarrollo: una perspectiva indianista". In: ERREJÓN, I. e SERRANO, A. (coords). “¡Ahora es cuándo, carajo!”. Del asalto a la transformación del Estado en Bolivia. Ediciones de Intervención Cultural/El Viejo Topo, 2011.
47) MARTINS, Leda. “Performances do tempo espiralar”. IN: RAVETTI, Graciela e ARBÉX, Marcia (orgs). Performance, exílio, fronteiras: errâncias territoriais e textuais. Belo Horizonte: Departamento de Letras Românicas, Faculdade de Letras/UFMG: Poslit, 2002.
48) MARTINS, Leda. Afrografias da memória. São Paulo: Perspectiva; Belo Horizonte: Mazza Edições, 1997.
57) MUNDURUKU, Daniel. “O ato indígena de educar(se), uma conversa com Daniel Munduruku”. Transcrição de encontro realizado em 5 de julho de 2016, como parte de ação de difusão da 32ª Bienal: Programa de Encontros no Masp -http://www.bienal.org.br/post/3364
62) ANZALDÚA, Gloria. Borderlands: the new mestiza = La frontera. San Francisco: Aunt. Lute, 1987.
63) ANZALDÚA, Gloria.”La conciencia de la mestiza / rumo a uma nova consciência”. In: Revista Estudos Feministas. Vol. 13, nº 3. Florianópolis, set/dec 2005.
64) ANZALDÚA, Gloria. “Como domar uma língua selvagem”. IN: Cadernos de Letras da UFF – Dossiê: Difusão da língua portuguesa, no 39, p. 297-309, 2009.
76) ENNE, Ana Lucia e JESUS, Giula. " "Língua quebradas” e subjetividades ambivalentes: as
mediações, os conflitos culturais e o pensamento de fronteira na série chicana
“Vida" ". Artigo submetido ao GT Comunicon 2021, a ser realizado de
13 a 15 de outubro de 2021 (aguardando ou não o aceite, portanto, ainda inédito)
77) WALSH, Catherine. “Interculturalidade e decolonialidade do poder um pensamento e posicionamento "outro" a partir da diferença colonial”. IN: Revista Eletrônica da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), V. 05, N. 1, Jan.-Jul., 2019.
87) Diversos autores. “Dossiê Sumak Kawsay, Suma Qamaña, Teko Porã. O Bem-Viver”. IN: IHU On-line. Revista do Instituto Humanitas Unisinos, n. 340, ano X, agosto de 2010.
88) SANTOS, Milton. Metrópole: a força dos fracos é seu tempo lento (p. 39-41). In: SANTOS, Milton. Técnica, espaço, tempo – Globalização e meio técnico científico-informacional. São Paulo: Editora HUCITEC, 1994.
89) Sobre flanar e práticas do espaço - vídeo "Encontro 8 - Das artes e das dificuldades de andar pela cidade" - com Ana Enne
111) RIBEIRO, Lia. Residente do mundo. Analisando produções e subjetividades de René Pérez Joglar com base em seus deslocamentos. Dissertação de mestrado em Cultura e Territorialidades. Niterói: PPCULT/UFF, 2020.
134) NASCIMENTO, Beatriz. “O conceito de quilombo e a resistência cultural negra”. IN: RATTS, Alex. Eu sou atlântica. Sobre a trajetória de vida de Beatriz Nascimento. São Paulo: Instituto Kuanza; Imprensa Oficial, 2006.