domingo, 3 de outubro de 2010

Breve diálogo entre espetáculo e política




Protesto do Greenpeace, coletivo mundialmente conhecido por promover ações espetaculares 
O livro “A sociedade do espetáculo” (1967), do francês Guy Debord, é considerado um norteador para os movimentos sociais das décadas de 60 e 70. Debord defende que as relações nas sociedades modernas, impregnadas pelo capitalismo avançado, passaram a ser mediadas pela imagem, pela dimensão do espetáculo, substituindo o real pela sua representação. O parecer prevaleceria sobre o ser e o ter, evocando assim uma possível essência do ser humano. As ações espetaculares promovidas pelos coletivos políticos não poderiam ser vistas como críticas, tendo em vista a utilização da mesma lógica que pretendiam criticar, agindo, portanto, como forma de reiteração da sociedade do espetáculo. Partindo disso, como analisar as formas de ativismo político na contemporaneidade? Seriam estas apenas reiterações da lógica sistêmica? 
O que Debord não previa era a imbricação entre campos vistos como dicotômicos e a capacidade dos sujeitos de se apropriarem e ressignificarem as ações. De lá para cá, as questões se deslocaram,  a sociedade se complexificou, dicotomias ruíram, dando lugar a novos paradoxos e paradigmas. Diante desse novo contexto, caracterizado pela fragmentação, pela lógica da convergência e pelos atravessamentos que fazem tudo parecer interconectado, o sujeito pós-moderno tende a responder de forma diferente, a resistir de novas maneiras.
Dessa forma, perceber as ações midiáticas dos movimentos como reiteração da lógica capitalista é restringir o debate ao pensamento marxista de Debord. Se pensarmos que a sociedade contemporânea é intrinsecamente atravessada pelas mídias e essa se constitui como lugar de disputa discursiva, dada sua importante e estratégica posição na estrutura social, podemos perceber que tais reações se adequam à linguagem global das mídias. Trata-se, portanto, da recriação de formas de resistência e contra-hegemonia na sociedade contemporânea e não de uma reiteração da lógica capitalista ou reificação dos movimentos sociais.

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