Dando sequência à publicação dos trabalhos que se destacaram nas disciplinas desse semestre, publicamos agora uma análise que Bruno Pestana, aluno do primeiro período de Sociologia e Comunicação, fez do seriado "A grande família" usando como referência conceitos de Karl Marx.
A visão marxista sobre “A Grande Família”
Karl Marx compara a sociedade com uma estrutura de engenharia, como um edifício onde há uma base, a economia, e, acima dela, as superestruturas que seriam as instituições determinadas por essa base econômica a fim de legitimá-la como, por exemplo, a religião, a família e a política, entre outros. A mídia hoje seria então, segundo essa visão, também uma dessas superestruturas já que reforça, mantém e legitima a base a partir da criação de falsas ideias, as ideologias, mantendo assim a força de pensar da classe dominante.
Como instrumentos para a manutenção dessa ideologia, a mídia utiliza as telenovelas, as séries e até o jornalismo. A exemplo de um desses instrumentos, “A Grande Família” é uma série de TV exibida pela Rede Globo desde 2001 e é uma reinterpretação da série original exibida entre os anos 1972 e 1975. A série é exibida semanalmente com episódios cômicos sobre a vida da família Silva que representa a família de classe média baixa brasileira moradora do subúrbio carioca. Entre outros personagens, os principais são: o patriarca Lineu, um fiscal correto e responsável que é casado com a exemplar dona de casa e mãe Nenê. O casal tem dois filhos: a mimada Bebel, casada com o taxista malandro Agostinho Carrara, e o caçula e preguiçoso Tuco.
Na visão marxista, a criação de uma identificação do público maior da TV aberta, a classe média baixa, seria, certamente, uma forma de alienação já que essas famílias vendo-se representadas na mídia, principalmente na maior emissora de TV do país, acabam por conformar-se com suas realidades já que na série são representados de forma cômica os problemas típicos familiares como os de convívio, os financeiros e etc, além de legitimar a ideia burguesa de família. Família essa formada por indivíduos que ajudam a manter a propriedade privada interessante às classes dominantes através da ideia de consumismo, da noção nula do valor da sua força de trabalho. Essa manutenção dos interesses da classe dominante pelas classes dominadas se dá a partir de uma falsa consciência que não corresponde logicamente ao determinismo de suas condições materiais. Na série, há inúmeros episódios em que o casal pretende passar uma noite de amor em um hotel de luxo, que a filha quer ter uma vida de novela ou que o filho quer dinheiro para comprar produtos de marcas famosas, o que torna visível a criação da falsa consciência no espectador que, por sua vez, através dessa alienação, não cria ideais de revolução contra a classe dominante, mas sim a vontade de ser como ela, de ascender.
A série exemplifica, então, a visão marxista sobre o poder da mídia como legitimadora da ideologia criada pela classe dominante a fim de estimular a manutenção da propriedade privada e o consumismo criando, assim, o véu da ideologia nas classes oprimidas, fazendo uma inversão, ou seja, criando um sistema de ideias para que os dominados acreditem que a ideologia determina o material quando na verdade, para Marx, é o contrário que ocorre.
Bibliografia: Marx e Engels, Manifesto do Partido Comunista.
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