domingo, 24 de maio de 2009

Estigmas no Contemporâneo



O conceito de estigma foi estudado pelo sociólogo Erving Goffman, e publicado em seu livro Estigma - Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. O pensador canadense chegou a conclusão de que estigma "será usado em referência a um atributo profundamente depreciativo" (1980:13), sendo um "efeito de descrédito". A partir desse termo, podemos constatar, que nos últimos tempos, o peso da estigmatização - isto é, "um defeito, uma fraqueza, uma desvantagem" (1980:12) - parece estar cruzando a fronteira do racial, para o campo dos aspectos físicos. Evidente que não estou negando que ainda exista a segregação racial, muito menos a sócio-econômica, mas um dos aspectos que mais me impressionam é como o corpo, a aparência física, tem servido de um poderoso mecanismo de ridicularização e vergonha.

Veja essa notícia, a título de ilustração.

Ryanair vai cobrar mais de passageiros obesos
Publicada em 23/04/2009

LONDRES - A empresa aérea de baixo custo Ryanair vai cobrar taxa extra dos passageiros com sobrepeso e está ouvindo seus clientes para saber a forma de cobrança pelos quilos considerados excessivos. A medida foi anunciada após os resultados de um concurso de idéias lançado pela empresa, que teve a participação de mais de 30 mil internautas.

Esse é um execrável e explícito exemplo de estigmatização. A sociedade parece caminhar para a criação de outros tantos apartheids, como é o caso da construção de muros cercando as favelas do Rio de Janeiro. Processo semelhante passaram os moradores de uma localidade argentina. A mesma rua dividia a elite de um lado, e chabolas, residências humildes, de outro. As bases de um muro chegaram a ser fincadas no meio de dita rua, não obstante, os moradores impediram que a obra prosseguisse, derrubando-as em motim, numa esplendorosa demonstração de que quando há empenho da população em prol de uma causa, há o recuo dos poderes dominantes.
Outros casos bem sucedidos merecem destaque, tal como o dos deficientes físicos, os quais padeciam do mal do desemprego antes da aprovação da lei que determina que as empresas – de acordo com seu porte – contratem-lhes, sob pena de pagamento de multas. Muitos viram nisso a oportunidade de regressar ao mercado de trabalho.
Entretanto, alguns se indagam: dita lei, e até mesmo as políticas de cotas nas universidades, não vêm a ser um exemplo de estigmatização?

Fica levantada a questão.

2 comentários:

anaenne disse...

A questão que o Bruno levanta, nesse ótimo post, é muito importante qdo pensamos a questão da estigmatização: qdo criamos leis que "protegem" o estigmatizado não estamos, em alguma medida, legitimando a estigmatização, reforçando a consciência coletiva e seu poder coercitivo, como nos lembra Durkheim? A luta pelo fim do estigma deveria ser uma luta pela universalização ou pela particularização dos direitos? Acho que esse é um ponto nervoso da discussão sobre preconceito. Particularmente, tenho dúvidas sobre ambas as posições. O q vcs acham?

Rodrigo disse...

Quero apenas falar rapidamente sobre essa lei de cotas para deficientes físicos.

Sinceramente não sei o que pensar dessa lei. É bom para os deficientes que tem mais chances de arranjar um emprego, é bom pras outras pessoas que terão contanto com eles pra conviverem com pessoas com necessidades (nem sei se é certo dizer isso) diferentes, mas por outro lado essa maior inserção dos deficientes no mercado de trabalho se faz por força de lei e não por reconhecimento da capacidade deles, ou seja, quase que por pena. Pode ter gente que ache que eles estão roubando seus postos de trabalho.

Enfim, não sei o que pensar sobre isso, estou totalmente em cima do muro.
Enfim