segunda-feira, 7 de julho de 2014

Mídia e Representações da Favela - Trabalhos Finais: "Conhecimentos em caixas polidas"

A disciplina de "Mídia e Representações da Favela" contou com a participação de muitos alunos de outros cursos além de Estudos de Mídia, como de Serviço Social e Produção Cultural. Leandro Cunha, estudante de Psicologia, frequentou a turma e para o trabalho final da matéria fez uma análise correlacionando o que pôde presenciar na sala de aula - com o auxílio bibliográfico - aos seus estudos paralelos de psicologia.

O texto é rico na reflexão de conteúdo e vale a leitura!

----------------------------------------------------------------------------------------------------------------


Conhecimentos em caixinhas polidas

"Para ferir as almas, há de ferir primeiramente 

os olhos e os ouvidos"

Sérgio Buarque de Holanda

“É que as aulas dessa professora falam das mesmas coisas que nas aulas de psicologia, só que de forma diferente”. Essa foi minha primeira impressão da aula, dizem que é a que fica. Estava muito interessado em saber o que me deixava tão tonto na aula, seria o jeito leve da professora ao transmitir assuntos tão sérios? Seria a cervejinha entre o trabalho e a disciplina? “Porra, isso não tem nada a ver com ‘disciplina’, isso é outra coisa” pensava. A insistência de que a representação é forjada, inventada, mas tomada como verdade absoluta, tema corrente no curso de psicologia, minha caixinha mais ou menos polida, ganhava um outro tom, desafinado. Uma dissonância se atualizava na sala de aula.

- Onde é a aula da Ana Enne?

- 301.

- Obrigado!

Alguns dirão que ainda não saíram do armário. Minha questão é menor saí da caixinha. As aulas sobre as invenções de discursos que ganham legitimidade nas dimensões coletiva e corpórea...algo se fazia estranho a mim nessas aulas, não conseguia narrar sobre. Logo, não criava um sentido para isso.

Quando da minha pergunta, muito espontânea, durante a discussão do livro Guia afetivo da periferia, de Faustini, surge um mundo de possibilidades. Falávamos sobre como os modos afetivos de ocupação de lugares podem desfazer as representações já instaladas: “mas é na mesma hora que vem outra representação?” perguntei, na verdade pensei alto. O pensamento alto retorna para você como alteridade. Foi no momento em que pude criar uma narrativa para a questão da representação é que disparou-me uma possível resposta: é que na área da psicologia, na qual a abordagem clínica tem um lugar preponderante, estrategicamente as intervenções e discussões nas aulas é no sentido de sentido de fazer emergir esse momento do “entre”, entre o desmantelamento de uma representação e a criação de outra, fazendo desse “entre” um lugar político-clínico e possível, criando condições para a duração desse momento não-representativo, um momento ‘presentativo’, criativo...é onde acreditamos que surgem os momentos de potência da vida. Essa é a discussão séria, muito séria na psicologia. E eu me deparava com a mesma coisa, mas de forma leve, interessantemente.

Continue lendo, clique aqui!

Nenhum comentário: