terça-feira, 28 de outubro de 2008

Sou feia, mas tô na moda


Documentário, Brasil, 2005, 60 minutos.

Direção: Denise Garcia
"Eta lele, eta lele Eta lele, eta lele Eta lele, eta lele Eta lele, eta lele
Eu fiquei 3 meses sem quebrar o barraco
Sou feia, mas tô na moda,
tô podendo pagar hotel pros homens
isso é que é mais importante"

Na última quinta, dia 23, a turma de Mídia e Moda assistiu o documentário “Sou feia, mas tô na moda”, de Denise Garcia. O filme é, sem dúvida, muito rico para as discussões feitas tanto nesta disciplina, quanto nas outras matérias oferecidas pela Professora Ana Lúcia Enne, como Mídia e Cultura do Consumo e Cultura Popular.
Já no seu título, que faz referência direta a um dos funks mais bombados do período em que foi lançado – no caso, a música de Tati Quebra Barraco que inicia essa postagem-, o filme levanta questões como o ideal de beleza, a inclusão a partir do consumo, a comparação do funk com o feio – sendo ambas categorias inferiorizadas-, a idéia de moda como algo valorativo e legitimador, entre outros. Na música de Tati, ela está na moda não só porque sua música está na moda, mas também há a questão de “estar na mídia”.. Afinal, existe alguma coisa mais in hoje em dia do que ser objeto de desejo da mídia? Além disso, com a frase “to podendo pagar motel pros homens”, a cantora ainda enfatiza a idéia da mulher moderna independente e bem sucedida. Nesse sentido é interessante destacar que o documentário foca, em especial, as mulheres do movimento, como as funkeiras Deise Tigrona, Vanessinha Pikachú, Tati Quebra-Barraco e diversos "bondes" de meninas.
Ao percorrer diversos bailes cariocas e também contar com o depoimento de diversas personalidades do funk, como: Deise Tigrona; Cidinho e Doca; Mr Catra e Dj Malboro, Denise Garcia conseguiu mostrar quem está por trás desse verdadeiro fenômeno cultural que se tornou o Funk carioca. Conhecido até no exterior, esse estilo musical vem ganhando cada vez mais espaço, incluindo as classes médias e altas, como diz o trecho “é som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado”, de Amilcka e Chocolate. Um ponto interessante é que eles destacam que o sucesso no exterior não é uma questão de aprovação, mas sim que a música que sofre tanto preconceito aqui conseguiu romper fronteiras. Lá, o funk é visto como “música brasileira” e não, necessariamente, como “música de favela”.
Um fato bem interessante que o filme mostra é que quem vive do funk acredita que a música exerce um papel conscientizador tanto em relação à violência, quanto ao que diz respeito as relações sexuais. Os depoimentos exibidos no documentário defendem o funk das acusões em relação ao esvaziamento político em prol da questão da sexualidade. Um dos argumentos utilizados é que o cinema e até outros estilos musicais, como o axé, já utilizaram bastante a idéia do sexo, e ambos foram bem aceitos pela mídia e tratados como criativos, cômicos, liberais e modernos. O que não acontece com o funk, que após tanto sucesso continua sendo “música para dançar e não para ouvir”, como sempre ouço por aí.

Bom, vale muito a pena dar uma conferida neste documentário. Veja o link de um trechinho do filme.
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Bibliografia recomendada:
MIZRAHI, Mylene - “Indumentária funk: a confrontação da alteridade colocando em diálogo o local e o cosmopolita”. IN: http://www.scielo.br/pdf/ha/v13n28/a10v1328.pdf
VILLAÇA, Nízia. “Moda e Periferia; negociações midiáticas”. Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho “Comunicação e Sociabilidade”, do XVI Encontro da Compós, na UTP, em Curitiba, PR, em junho de 2007. IN: http://www.compos.org.br/data/biblioteca_195.pdf

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