quarta-feira, 24 de maio de 2017

Chimamanda Adichie e o Perigo da História Única


No cotidiano, nos deparamos com diversos fatos. Fatos esses que conferem um consenso sobre uma "realidade", uma verdade elaborada acima da sucessão de acontecimentos que nos rodeiam. No entanto, tudo que se sabe sobre qualquer coisa, possivelmente, não é tão factual para outros. Os fatos são tudo aquilo que se diz sobre eles; são tudo aquilo que compõe as representações para si. Podemos ter conhecimento sobre qualquer coisa, mas nunca teremos sua experiência por completo. Daí, o que se sabe sobre tudo é o que se fala sobre tal, o que o nosso imaginário nos apresenta em seu horizonte de possibilidades.

Nesse passo, a escritora nigeriana Chimamanda Adichie nos alerta sobre o perigo da história única. Sobre a história que se desprende da complexidade das realidades. Claro que nunca se sabe tudo sobre qualquer coisa, mas não quer dizer que deveríamos nos ater a uma única possibilidade. Parafraseando a autora, "o branco é um eufemismo para o poder" e são eles, os que se apropriaram do capital social e simbólico, que detêm desta potencialidade de fixar significados e reproduzi-los até que já não haja dúvidas sobre a história.

De certo, o que Adichie nos alerta é basicamente sobre a dificuldade de ouvir o outro, a dificuldade de quebrar o silêncio e o vazio descritivo do discurso que se materializa sobre os corpos.

Assista ao TedTalk completo abaixo.


Postagem: Matheus Bibiano - graduando de Estudos de Mídia/
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UFF - GRECOS/LAMI

quinta-feira, 4 de maio de 2017

Francine Saillant e o trabalho do reconhecimento


Francine Saillant é uma antropóloga e intelectual canadense e diretora do Centro Interuniversitário de Letras, Artes e Tradições (CELAT), sendo professora titular do Departamento de Antropologia da Universidade Laval desde 1996. Em meados da década de 1980, Saillant concentra-se nos estudos de antropologia da medicina e desenvolve trabalhos de etno-história sobre aspectos culturais afetados pelo câncer, Cancer et Culture, e questões sobre gravidez, Qui consulte les sages-femmes au Québec ? 

No início dos anos 2000, Francine Saillant volta suas atenções para questões de cidadania, direitos por invalidez e questões raciais no Brasil. Entrando nessa linha, a pesquisadora passa a trabalhar com estudos de reparação e reconhecimento de minorias sociais, nos quadros brasileiros de emergência das lutas sociais. 

Em seu capítulo "Reconhecimento e reparações: o exemplo do movimento negro no Brasil", publicado no livro "História oral e comunidade: reparações e culturas negras", organizado por Hebe Mattos, do Laboratório de História Oral e Imagem (LABHOI), Saillant elabora um panorama geral das teorias do reconhecimento e reparação, que tangenciam os estudos da filosofia, sociologia, ciências políticas e a antropologia. 

Com isso, ela ressalta os aspectos identitários e as relações sociais dos grupos raciais minorizados e elabora sobre as questões que atravessam o "lugar" das minorias sociais e suas diversas formas de inclusão social, dadas através de políticas públicas estatais e, principalmente, as ações comunitárias elaboradas em prol desses grupos. 

Ao trabalhar o exemplo do movimento negro brasileiro, a autora comenta sobre a história da escravidão e os resquícios desta história no presente momento da sociedade "pós-escravista". Também identifica as leis de incentivo à cultura e história da África e as politicas de reparação e  valorização da cultura negra como objeto central da formação identitária da cultura brasileira. Tudo isso levando em conta as propostas e todas as lutas do movimento negro, propondo a ideia de reparação de si, a reparação do dano histórico de negro dado nas instâncias de atividade cultural feitas de "nós para nós".

Clique aqui para mais informações sobre o livro que se encontra na página do Projeto Passados Presentes

Postagem: Matheus Bibiano - graduando de Estudos de Mídia/
Bolsista de Iniciação Científica PIBIC/UFF - GRECOS/LAMI