segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sobre morte e juventude


Neste semestre, na disciplina Mídia e Juventude dada pela professora Ana Enne (no curso de Estudos de Mídia da UFF), estamos discutindo valores associados à juventude. As últimas aulas sobre modernidade e a questão do jovem em cena num lugar de protagonista na sociedade, me levantaram à seguinte questão: O surgimento e legitimação da juventude e seus valores estariam associados à ideia da morte de deus?
Partindo do princípio de que o nascimento da ciência pode ter anunciado a morte da idéia de um Deus pai, criador e regente - Deus, que até então era um suporte de alívio ao desconhecimento do indivíduo sobre sua origem, seu fôlego, sua morte, começa a perder o centro do Universo, e a humanidade, a esperança de uma vida após a morte.
A modernidade traz à tona uma nova perspectiva sobre a vida. O indivíduo se depara com o medo da morte, não apenas de sua carne mas também de seu espírito. A crença no reino dos céus após a morte cai por terra. A fé se distancia cada vez mais do mundo transcendental e se materializa numa visão modernista: a busca pela novidade, pelo progresso, tanto quanto a busca pela maior distância possível da morte. O pavor do fim da suposta única vida aumenta, mesmo que inconscientemente.
As preocupações se afastam cada vez mais do pecado, se aproximando da vontade de ser jovem, de aproveitar a vida como se fosse o ultimo dia e, tempos depois, a busca por ser saudável, belo, moderno. A morte passa a ser um dos maiores medos e as dúvidas sobre existência do inferno ou do céu estão mais evidentes. Isso nos faz pensar sobre uma ligação existente entre o medo da morte e a vontade de estar longe dela, refletida na valorização da juventude e no desejo do indivíduo de ser sempre jovem.

sábado, 25 de setembro de 2010

Ulf Hannerz


O antropólogo sueco Ulf Hannerz é diretor do Departamento de Antropologia da Universidade de Estocolmo, além de presidir a Associação Européia de Antropólogos Sociais. Começou seus estudos na década de 60, influenciado por autores da antropologia social britânica, particularmente, a Escola de Manchester, com Gluckman e Mitchell. Ao se mudar para os Estados Unidos, teve contato com o interacionismo simbólico de Goffman e as noções de cultura de Geertz. Desenvolvendo pesquisas em torno da antropologia urbana, culturas transnacionais e globalização, o autor iniciou suas publicações com “Soulside. Inquiries into Ghetto Culture and Community”, em 1969, fruto do trabalho etnográfico realizado num bairro majoritariamente negro de Washington.
Hannerz trabalha com uma perspectiva distributiva da cultura, buscada na sociologia do conhecimento e em autores como Peter Berger e Thomas Luckmann, que enfatizavam seu caráter processual. Tal perspectiva se deu por uma insatisfação com a antropologia clássica, que tendia a homogeneizar os indivíduos sob o manto das culturas. Dessa forma, adota o conceito de criolização, como uma dimensão socioestrutural capaz de abarcar as diversas misturas observadas em suas pesquisas etnográficas. A origem do termo remonta ao contexto da plantation nas sociedades do Novo Mundo e consolida-se nos estudos de sociolingüística. Hannerz propõe sua utilização na cultura a fim de alcançar uma visão macroantropológica, tornando o termo menos genérico e relacionando-o a uma sociedade mais estruturada.
Criolização, hibridez, sincretismo, mestiçagem, sinergia, etc, são criticados por se tratarem de um essencialismo confuso, ao sugerirem que as correntes culturais envolvidas no processo fossem anteriormente puras. Hannerz responde tais críticas se utilizando da lingüística, afirmando que não se levaria a sério a idéia de uma língua historicamente pura. No entanto, as misturas ocorrem em condições específicas nas diversas culturas e em graus variados. Indica ainda que uma das formas de se opor ao fundamentalismo cultural é desmistificando a própria cultura, passando a entendê-la como processo e produto da atividade humana (agency).
Para o autor, as cidades figuram como centros de confluência de culturas, sendo as interações condicionadas a essas combinações. A antropologia clássica estudava as minorias urbanas de modo isolado, não-imersas nas interações sociais promovidas pelo espaço da cidade, preocupando-se mais com o aspecto antropológico. O ambiente urbano, em especial zonas fronteiriças e metrópoles, constituem espaços estratégicos para o estudo da diversidade cultural, como apontam Canclini e outros tantos autores contemporâneos.
Hannerz defende o método etnográfico como forma de analisar os diversos fluxos envolvidos na contemporaneidade e afirma ainda que foi fundamental para a formação de seu pensamento social. Em entrevista concedida a Fernando Rabossi (Os limites de nosso auto-retrato. Antropologia urbana e globalização), diz que "Ao longo de sua história, a antropologia tem oscilado entre orientações que enfatizam a abertura e orientações que enfatizam o fechamento, de forma que, em parte, trata-se de uma questão teórica. No entanto, dadas as atuais condições do mundo, penso que precisamos trabalhar mais com a etnografia, com a análise, e até mesmo com o vocabulário da interconectividade, pois boa parte das pessoas no mundo hoje estão envolvidas em vários tipos de mobilidade geográfica, além da existência da mídia e de instituições educacionais muito semelhantes pelo mundo afora - o que não se adequa à imagem do mosaico. Eu e algumas outras pessoas temos utilizado a noção de "fluxos", metáfora que me parece conduzir efetivamente para uma preocupação com os processos que se desenrolam no espaço e no tempo".
Em seu artigo, “Fluxos, fronteiras, híbridos – palavras-chave da antropologia transnacional”, Hannerz pretende localizar nos estudos antropológicos a idéia de globalização, pressupondo que a preocupação com as relações interculturais sempre estiveram presentes nesse campo. Analisa o vocabulário da antropologia transnacional, fazendo referência ao livro "Keywords", onde Raymond Williams apresentava uma investigação histórica de termos culturais e sociais, como mídia e tradição. Por fim, conclui que tais processos culturais não levam a igualdade, pois onde há luta, há também jogo.