segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Sociologia e Comunicação - Trabalhos Finais: Análise do episódio piloto da série de TV "Veronica Mars"

Ao término de cada semestre, vários alunos optam por tratar de um produto midiático audiovisual para o trabalho final da disciplina "Sociologia e Comunicação". Seja uma série, um filme, um desenho animado ou uma novela, os alunos conseguem analisar o contexto social da narrativa de objetos ricos com trabalhos consistentes e maduros. E assim o fez a aluna Mariana Ramos, que produziu uma análise densa da série "Veronica Mars" (2004-2006) através dos conceitos de Karl Marx, dissecando o episódio piloto para compreender e relacionar a abordagem de luta de classes feita pela narrativa no seu núcleo de personagens.

Vale muito a leitura!
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 Análise do Episódio Piloto da Série de TV Veronica Mars

     Neste trabalho, analisarei o episódio piloto da série de TV americana Veronica Mars, exibida pelos canais de televisão aberta UPN e The CW entre os anos de 2004 e 2006, a partir de alguns dos conceitos apresentados pelo filósofo, economista e sociólogo alemão Karl Marx.
     A série narra a história da adolescente que dá o seu nome, uma menina de classe média que reside em uma cidade onde os extremos de riqueza e pobreza vivem em um clima de constante instabilidade. Após o assassinato brutal de sua melhor amiga, Lilly Kane, Veronica é ostracizada pelo seu grupo de amigos ricos e populares e passa a trabalhar junto a seu pai, antigo xerife da cidade, como investigadora particular.
     A série se passa na cidade ficcional de Neptune, no sul da Califórnia, e, como nos diz a narração da personagem principal já na primeira cena, essa é uma cidade “sem classe média”: “Se você estuda na minha escola, seus pais são milionários ou trabalham para milionários. Se você pertencer ao segundo grupo, você arranja um trabalho: fast-food, cinema, pequenos mercados”. A sequência de abertura apresenta o colégio público da cidade, palco diário das disputas entre os diferentes extratos da sociedade. Vemos um menino negro, preso, com fita adesiva, a um poste do estacionamento da instituição e escutamos comentários de que esta é uma ação da gangue local de motoqueiros, um grupo de garotos de classe média baixa que vive no “lado errado” da cidade e impõe respeito através de pequenos atos de vandalismo.

     A narração de Veronica nos guiará tanto através de seu passado e presente quanto nos informará dos segredos e mistérios dessa comunidade que, para quem olha de fora, é um exemplo de afluência econômica e modelo para os sonhos e expectativas que constroem e informam todo o projeto de nação dos Estados Unidos, mas que esconde – ou pretende esconder – com a cooperação de diversas das intuições sociais que compõem sua estrutura, as máculas de um processo de apagamento e opressão de suas classes mais baixas. 

     A classe média alta da cidade deve sua riqueza às Indústrias Kane, um conglomerado tecnológico criado pelo multimilionário Jake Kane que, quando de sua oferta pública na bolsa de valores, gerou, quase que instantaneamente, fortunas que sustentam o estilo de vida opulente dessa classe dominante.

     A empresa é a maior empregadora do local e, portanto, dita a estrutura econômica e social da comunidade, bem como as condições materiais para a existência dentro dela. Aqueles que não são acionistas das Indústrias Kane ou que não possuem altos cargos na empresa são relegados a cargos marginais ou empregados na rede de serviços da cidade – atendentes de supermercado, mecânicos, etc. Outros são empregados domésticos dessas famílias, tendo de se submeter aos caprichos de seus membros, sem poder emitir opinião ou se misturar com eles.

     É gritante, portanto, a separação entre aqueles que possuem os modos de produção e aqueles que compõem a força de trabalho, e esta separação gera profundas rachaduras no edifício que representa essa sociedade: sendo a base material da comunidade fundada em princípios de propriedade e desigualdade entre seus membros, as demais instituições que a compõem tendem a refletir, reproduzir e sustentar essa mesma situação.

     As superestruturas desse edifício reforçam a ideologia que sustenta no poder a classe dominante: o “proletariado” local recebe um atendimento diferenciado daquele fornecido às elites, mas deve, no entanto, se manter sob controle, alienados do processo histórico, ou, então, ser controlado à força através da ação repressora de outras instituições – delegacia do xerife, colégio, etc. – que foram cooptadas pelas falsas promessas de poder e/ou posses disseminadas pela própria ideologia.

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